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Escola de Jornalismo Indígena forma mais de 100 jovens na Bolívia

A Escuela de Periodismo Indígena (EPI) ou, em português, Escola de Jornalismo Indígena, é uma instituição fundada em outubro de 2020, em Santa Cruz, Bolívia, pela Organización de Apoyo Legal y Social (ORE), com o suporte de uma das maiores organizações de conservação ambiental do mundo, o World Wide Fund for Nature, que significa Fundo Mundial para a Natureza, mais conhecido como WWF. Desde sua origem, a escola já formou mais de 100 jovens indígenas guaranis na prática jornalística. Conheça essa história e seus resultados a partir de agora.

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Como funciona a Escola de Jornalismo Indígena da Bolívia?

A Escola de Jornalismo Indígena localiza-se em Charagua Iyambae, outrora um município, mas desde 2017 uma Entidade Territorial Autônoma Indígena Originária Camponesa (ETAIOC), a primeira da Bolívia. Com uma área ampla de 71.745 km², porém, apenas pouco mais de 38.000 habitantes, Charagua é um desses lugares esquecidos onde nem as intrometidas câmeras do Google Street jamais passaram.

Ali, a 745 metros acima do nível do mar, existe um estádio de futebol mesclado com terra e grama, contendo muito mais do primeiro item do que do segundo. Há também uma escola pública, um terminal de ônibus, um hospital e outras estruturas de pequeno porte, além da Fundação Centro Arakuaarenda (FCA).

Imagem meramente ilustrativa feita pelo copilot mostra um jovem jornalista boliviano filmando um guanaco, remetendo à produção de conteúdo realizada na Escola de Jornalismo Indígena.
A Escola de Jornalismo Indígena, na Bolívia, está transformando jovens guaranis em comunicadores. Imagem meramente ilustrativa: @copilot

A FCA é uma instituição que se dedica à capacitação de líderes indígenas. Ela concentra-se no fortalecimento da cultura, gestão territorial, educação intercultural e outras iniciativas, e além disso é também a sede da Escola de Jornalismo Indígena.

É para lá que, segundo o artigo “Jovens indígenas na Bolívia usam o jornalismo para resgatar suas vozes e identidade” publicado por César López Linares no LatAm Journalism Review (LJR), 28 alunos vão às quintas-feiras e voltam aos domingos, uma vez ao mês, ao longo de seis meses, para aprender sobre comunicação, redação, redes sociais, direito indígena e disciplinas de jornalismo. Ao todo, são 10 a 11 módulos com conteúdos diversificados.

O projeto, que está completando 5 anos de existência em outubro de 2025, formou até o momento 102 jovens indígenas guaranis, muitos dos quais se dedicam a criar narrativas de dentro para fora das comunidades de Charagua e da vizinha Chiquitania, fortalecendo, dessa maneira, o modo de vida e a autonomia dos povos da região.

Resultados do projeto

A Escuela de Periodismo Indígena (EPI) tem sido uma revolução na vida dos indígenas de Chiquitania e sobretudo de Charagua. Por meio dela, jovens guaranis estão desenvolvendo várias iniciativas, tais como a da rádio Ñande Ñee e o site Paso a Paso, que noticiam assuntos locais.

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A EPI possui um canal no Youtube, onde são publicados os documentários, filmes, curtas-metragens e outros vídeos produzidos pelos alunos de jornalismo. O vídeo “Guajukaka”, por exemplo, que você poderá assistir a seguir, é um alerta sobre a situação de um animal local parente da lhama, o guanaco, que está em vias de extinção por conta de caça ilegal, destruição de seu habitat e mudanças climáticas, entre outros motivos.

Vídeo: Guajukaka. Fonte: canal da Escola de Jornalismo Indígena no Youtube

De Charagua ao Jaraguá: uma conexão jornalística

Na região noroeste da cidade de São Paulo, Brasil, existe um distrito chamado Jaraguá, onde localiza-se a maior montanha local, denominada pico do Jaraguá, ao redor do qual situa-se a Terra Indígena Jaraguá, atualmente com oito aldeias (tekoas), são elas Ytu (Cachoeira), Pyau (Nova), Itawera (Pedra Reluzente), Itakupe (Atrás da Pedra), Itaendy (Pedra Amarela), Yvy Porã (Terra Linda), Pindo Mirim (Pinheirinho) e Ka’aguy Mirim (Pequena Floresta Sagrada).

No Jaraguá como no Charagua, existe jornalismo. As aldeias são retratadas, muitas vezes, pelos próprios indígenas. Exemplo disso são os documentários produzidos pelo jornalista Thiago Carvalho Wera’i disponíveis para visualização no canal Ago+Media no Youtube. Ele produziu filmes como Nhemongarai, Avaxi Ete’i – Milho Verdadeiro e Atrás da Pedra – Resistência Tekoa Guarani, que fizeram grande sucesso.

Vídeo: Atrás da Pedra – Resistência Tekoa Guarani na Terra Indígena Jaraguá, por Thiago Carvalho. Fonte: canal ago+media no Youtube

Enfim, a experiência da Escola de Jornalismo Indígena em Charagua Iyambae mostra como a comunicação social pode ser uma ferramenta de resistência, identidade e transformação. Ao formar jovens guaranis para contarem suas próprias histórias, o projeto fortalece a autonomia dos povos originários da Bolívia. E enquanto isso, no Jaraguá, Brasil, ocorrem iniciativas semelhantes como se a natureza estivesse conectando todos em um.

Marinaldo Gomes Pedrosa

Marinaldo Gomes Pedrosa

Marinaldo Gomes Pedrosa é bacharel em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela UniSant'Anna. É registrado como Jornalista pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego sob o MTB número 0074698/SP desde 27 de setembro de 2013. Ele também é editor na Magpe Books.

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