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3 livros de jornalismo que abalaram o mundo

Vivemos em uma época em que somos incentivados a consumir informações efêmeras, banais e superficiais. Mas chega uma hora que precisamos de algo mais substancial. Por isso, criei esta lista com 3 livros de jornalismo que abalaram o mundo, com grandes-reportagens de alta qualidade para abastecer seu cérebro com conteúdo de verdade e, dessa maneira, aumentar o seu repertório jornalístico.

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Estes 3 livros de jornalismo abalaram o mundo não só porque venderam muito e geraram milhares de dólares para as editoras, mas porque são obras que ultrapassaram fronteiras, revelaram segredos, puseram luz sobre estruturas de poder, denunciaram escândalos políticos, influenciaram decisões governamentais, deixaram à vista tragédias humanas e conflitos, provocaram debates públicos e, por isso, ajudaram a mudar e a moldar a sociedade. Confira.

3 livros de jornalismo que abalaram o mundo

A lista que você está prestes a ler é um pouco diferente das demais. O diferencial aqui é que, além de conhecer um pouco dos autores e uma prévia das reportagens, você poderá ler curiosidades sobre os bastidores da produção dos livros, além de obter uma estimativa de exemplares vendidos de cada um deles. Conheça agora 3 livros de jornalismo que abalaram o mundo.

Hiroshima (1946)

Se você estuda jornalismo, mas ainda não leu Hiroshima, hmmmm, precisa fazer isso imediatamente. Esse livro é um clássico do jornalismo literário escrito por John Hersey (1914-1993), que narra o impacto da bomba atômica na cidade de Hiroshima, no Japão, em 1945. Ele publicou a reportagem, pela primeira vez, na revista The New Yorker em 1946.

A capa da revista foi ilustrada por Charles E. Martin (1910-1995). Este artista desenhou crianças e adultos brincando, se exercitando e se divertindo em uma vila ou parque. Era um contraste frente à destruição provocada pelo artefato nuclear. No centro da capa lia-se: “Toda esta edição é dedicada à história de como uma bomba atômica destruiu uma cidade”.

A grande-reportagem virou livro no mesmo ano por meio da editora Alfred A. Knopf, Inc. De acordo com a matéria de 2002 da Folha de S.Paulo, “Obra propõe visão crua do holocausto nuclear”, de autoria de Carlos Eduardo Lins da Silva, estima-se que tenham sido vendidas 3,5 milhões de cópias do livro.

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Nas páginas de Hiroshima, você lerá relatos de vítimas que sobreviveram à bomba e a tudo o que veio depois dela. E mais, 40 anos depois, Hersey voltou à cidade e entrevistou as mesmas vítimas, exceto duas que não estavam mais vivas, completando a história com um capítulo final.

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John Richard Hersey, o autor, nasceu em Tientsin (atualmente Tianjin), China, mas não era chinês. Seus pais, Roscoe e Grace Baird Hersey eram missionários cristãos estadunidenses que trabalhavam na terra da Grande Muralha. Hersey teve uma educação ocidental, estudou em Yale e em Cambridge.

Você sabia?

Hersey permaneceu cerca de 19 dias no Japão para apurar a reportagem. Observou, entrevistou, pesquisou, documentou. Depois, voltou aos EUA, escreveu um rascunho de 150 páginas à mão, e finalmente produziu a reportagem, publicada pela primeira vez no dia 31 de agosto de 1946, na revista The New Yorker.

Todos os homens do presidente (1974)

Mais que um livro, “Todos os homens do presidente” é uma aula prática de investigação jornalística. A sondagem da reportagem começou no dia 17 de junho de 1972, logo depois que cinco homens foram presos por terem invadido a sede do Partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington, EUA. Descobriu-se que aqueles homens estavam tentando instalar escutas telefônicas e fotografar documentos no lugar. Os jornalistas Bob Woodward (1943) e Carl Bernstein (1944) do The Washington Post começaram a verificar os fatos e acabaram descobrindo algo inimaginável.

Com a ajuda de um informante secreto, e com muita paciência para cruzar nomes, rastrear cheques e confrontar fontes, os repórteres chegaram à conclusão de que a invasão era obra do Comitê para Reeleição do Presidente Nixon (CREEP), que operava com uma rede de espionagem e sabotagem política financiada com dinheiro ilegal. De 1972 até 1974, o The Washington Post publicou mais de 300 matérias sobre o tema. O presidente republicano tentou obstruir a investigação e isso acabou minando sua popularidade. A dupla de repórteres publicou o livro “Todos os homens do presidente” em junho de 1974 e o presidente renunciou dois meses depois.

Você sabia?

Em 1976 o livro “Todos os homens do presidente” ganhou uma adaptação para o cinema. O filme foi estrelado por Robert Redford e Dustin Hoffman que representaram respectivamente Bob Woodward e Carl Bernstein. Tão icônico quanto o livro, o filme é considerado um dos melhores já feitos sobre jornalismo.

Narrado em estilo cinematográfico, os autores não fazem acusações explícitas. Ao invés disso, eles apenas expõem os fatos, fazendo com que a história se desenrole na mente do leitor como se fosse a cena de um filme. Dessa maneira, é o leitor que analisa e avalia o ocorrido, chegando às próprias conclusões.

O livro tornou-se um best-seller quase imediatamente. De acordo com Bob Woodward em entrevista para Julie Riddle, foram vendidos algo entre 600 mil e 700 mil exemplares apenas da versão de capa dura da obra. Bem, se contarmos as versões em outros idiomas, e em capa comum e e-book, talvez possamos estimar mais de 2 milhões de exemplares vendidos. Isso não é um fato, é apenas uma especulação.

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Ambos estadunidenses, os autores continuam atuando no jornalismo, embora não em tempo integral. Bob Woodward formou-se em Yale e ingressou no The Washington Post em 1971. Ele é editor associado do jornal. Já o seu parceiro Carl Bernstein iniciou curso superior em Maryland, mas abandonou antes de concluir. Com 16 anos, porém, ele já trabalhava como copyboy no The Washington Star. Atua como analista político.

Os eleitos (1979)

Obra de um dos mestres fundadores do New Journalism, o jornalista Tom Wolfe (1930-2018), “Os eleitos” aborda a história de coragem dos astronautas que fizeram parte do projeto Mercury, o primeiro da National Aeronautics and Space Administration (NASA) que visava a exploração espacial em naves tripuladas. A ideia desse programa, que teve início em 1958, era colocar um homem no espaço antes da União Soviética.

Dois leitores pasmos observam a capa de um livro com sete astronautas e um foguete em lançamento, sugerindo surpresa diante de uma narrativa impactante sobre exploração espacial. A cena remete ao
“Os eleitos”, de Tom Wolfe, é um dos livros de jornalismo de maior sucesso na história. Imagem meramente ilustrativa: @copilot

Os soviéticos já haviam colocado em órbita o primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 1957. Por isso, havia uma competição velada acerca da próxima meta. Os estadunidenses, então, dentro do programa Mercury, selecionaram sete pilotos de caça e os treinaram como astronautas. Mas muito além disso, em um processo de heroificação pública, os transformaram em ícones nacionais.

Você sabia?

Máquinas de escrever já existiam na época do lançamento de “Os eleitos”, entretanto, Wolfe preferiu uma ferramenta mais antiga para criar o texto original de sua obra-prima. Ele escreveu o rascunho do livro à mão, utilizando uma caneta-tinteiro. Para ele, a caneta o conectava de maneira mais orgânica e profunda com o estilo e cadência narrativa. O que diria este jornalista acerca das reportagens feitas por inteligências artificiais de hoje em dia?

Durante a apuração, Wolfe acompanhou os futuros astronautas de forma exaustiva. Entranhou-se na cultura, investigou o ego, mapeou a vaidade, viajou por dentro do universo de cada um. O jornalista também entrevistou dezenas de pessoas e até estudou documentos da NASA. E na hora de escrever a reportagem, o fez em ritmo de romance de não-ficção, também chamado de New Journalism, que mistura a objetividade do jornalismo com a subjetividade da literatura. Narrou acontecimentos dos pilotos e de suas famílias, apresentou a realidade da aviação militar, os testes psicológicos e avaliações físicas, a relação com a imprensa e outros aspectos da preparação, até os momentos da ignição, órbita e reentrada na atmosfera.

“Os eleitos” foi publicado em 1979 e tornou-se um best-seller de forma instantânea nos EUA. Foi traduzido para diversos idiomas. Hoje é comercializado em diferentes formatos, do impresso ao digital. Pode ter alcançada a marca de milhões de vendas de exemplares, especialmente após ter sido adaptado para o cinema e virado filme sob a direção de Philip Kaufman.

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O autor, Tom Wolfe, nasceu em Richmond, Virgínia, em 1930. Graduou-se em estudos americanos em Yale. Trabalhou no The Washington Post e em revistas como a Esquire. Ao integrar narrativa ficcional com reportagem investigativa, tornou-se ele próprio um ícone, mas do jornalismo literário. Escreveu vários livros ao longo da vida, porém, “Os eleitos” é o mais famoso.

Por que esses livros de jornalismo abalaram o mundo?

São várias as justificativas pelas quais esses livros de jornalismo abalaram o mundo. Além do fato de os jornalistas cobrirem algumas histórias de altíssimo interesse para o público, esses livros ajudaram a criar novos padrões de investigação e produção de textos jornalísticos. Cada um no seu nível, eles misturaram um pouco de literatura com reportagem, consolidando uma forma inovadora de contar histórias reais.

A literatura deu ao jornalismo uma nova camada de complexidade. Ela permitiu investigar não apenas o fato externo, mas também o mundo interno de cada fonte de informação, possibilitando dessa maneira humanizar situações que de outra forma seriam tratadas apenas como estatísticas frias. Além de abalar o mundo dos leitores, essas obras inspiraram gerações de novos jornalistas e escritores.

Marinaldo Gomes Pedrosa

Marinaldo Gomes Pedrosa

Marinaldo Gomes Pedrosa é bacharel em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela UniSant'Anna. É registrado como Jornalista pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego sob o MTB número 0074698/SP desde 27 de setembro de 2013. Ele também é editor na Magpe Books.

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